O livro “A Doce Jornada” estava na minha lista de leitura há um tempo e, como acredito que nada acontece por acaso, li ele no momento certo.
A personagem principal, Mabel, trabalhava como assistente executiva de um diretor de uma empresa multinacional. Aos olhos dos outros, ela tinha a vida dos sonhos, mas internamente estava longe disso. Vivia empurrando a vida e o trabalho com a barriga, reclamando de tudo, mas sem fazer nada para mudar. Até que um dia a vida resolveu se encarregar disso e virou tudo de ponta cabeça.
Por desatenção, acabou cometendo um erro grande e foi demitida. A partir daí, teve que olhar para dentro e entender o que queria fazer da vida, seja profissionalmente como pessoalmente. Assim, começou a investir tempo em si mesma e, pela primeira vez, tomou as rédeas da própria vida, comandou tudo e não ficou aceitando qualquer coisa que aparecesse.
A minha mudança para a Holanda me causava (e continua causando) muita insegurança em relação ao meu lado profissional.
Me senti como a Mabel por não saber ao certo onde me encaixava. Na verdade, vivo isso há alguns anos.
No Brasil, havia um certo “conforto”, pois mesmo vivendo o desconforto de não saber em qual profissão me encaixo, eu já tinha uma vida, com a minha familia, meus amigos, um trabalho estável (mesmo não sendo o trabalho que queria), uma rotina, ou seja, era desconfortável, mas “conhecido”.
Na Holanda, além da adaptação com tudo, continuo sentindo o mesmo desconforto, mas num ambiente desconhecido.
5 anos atrás, quando decidi deixar o mundo jurídico, foi uma sensação aterrorizante, porque sentia que não me encaixava em lugar nenhum e, além de não me encaixar, sentia que nenhuma profissão brilhava meus olhos.
Acho que nossa geração (sou da turma dos anos 90) pensa um pouco diferente em relação ao “trabalho”. Sinto que as gerações passadas enxergavam “trabalho” apenas como uma forma de ganhar dinheiro para sobreviver e minha geração está numa transição entre “preciso de dinheiro para sobreviver, mas não a todo custo, preciso ser minimamente feliz realizando esse trabalho”.
Sempre pensei que nós “gastamos” muito mais tempo trabalhando do que com a nossa própria família, então isso precisa ser no mínimo um pouco “prazeroso”.
Esses pensamentos sempre foram algo que ficava preso na minha cabeça e por muito tempo me senti paralizada.
Ao sair do mundo jurídico, conheci o mundo das vendas e isso abriu minha cabeça de uma forma maravilhosa. Entendi que poderia me reinventar quantas vezes quisesse e, também, confiar mais na minha capacidade. Depois fui para o mundo comporativo, que foi um enorme desafio e apenas no encerramento desse ciclo consegui entender meu real valor.
Hoje estou aqui na Holanda e meu maior medo antes de vir para cá era ficar sem emprego e o que fazer com meu tempo livre.
Foi justamente durante esses momentos de medo que a Mabel me mostrou que POSSO e PRECISO tirar um tempo para entender o que quero, o que gosto e qual meu próximo passo. Tirar esse período para me reencontrar, colocar meus pensamentos e sentimentos no lugar vai ser importante para andar pelo caminho que quero e que me faça feliz.
Física e geograficamente já recalculei a rota para a Holanda. Agora, com essa nova rota geográfica, preciso ouvir meus sentimentos, olhar com mais carinho para mim e entender que está tudo bem não ser produtiva o tempo todo.
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