Todo mundo tem seu grupo de apoio.
Geralmente nosso "porto seguro" é nossa família, mas em muitos casos, os amigos são uma extensão desse "porto seguro".
Por exemplo, sei que para QUALQUER coisa que eu precisar, minha família vai estar ao meu lado. Eles são o "porto do seguro do porto seguro" (se é que existe um "porto seguro" numa categoria a cima de "porto seguro").
Mas existe também a família que nós escolhemos e esses são nossos amigos.
Tenho sorte. Tenho amigos incríveis.
Sou uma pessoa super introvertida e um tanto quanto difícil de fazer amigos.
Entenda que conversar com pessoas é diferente de fazer amigos. Não sou tão ruim em conversar com pessoas (depende do dia e do carisma), mas não sou boa em fazer amigos.
Meus amigos são antigos. Para você ter noção, tenho dois amigos que conheci na primeira escola que estudei com 4 anos (hoje tenho 32, então faz as contas aí e entenda o nível).
Sou uma pessoa de poucos e bons amigos.
Relações duradouras.
Muito duradouras.
Enfim, tenho sorte. Tenho algumas amigas que são mais próximas e elas são meu "porto seguro". São elas que ficam sabendo de tudo da minha vida em primeira mão. Ressaca, tristeza, felicidade, notícias boas, notícias ruins, uma idiotice aqui e outra ali, a primeira vez que corri 8k ou a primeira vez que corri 9k numa esteira. São elas que estão sempre presentes em todos os momentos.
Esses dias eu estava desabafando com algumas delas sobre a dificuldade de morar fora do país e elas me deram um conselho: você precisa encontrar seu grupo de apoio aí.
Ok, preciso. Mas gente, meu grupo de apoio está INTEIRO no Brasil (ok, o Léo está aqui, mas dá para acompanhar o raciocínio né?). Como que em dois meses encontro um grupo de apoio aqui? Demorei ANOS para construir meu "porto seguro" e agora simplesmente preciso juntar as peças e tijolos e construir um "porto seguro" aqui? Do nada?
Minhas amigas são meu grupo de apoio. Elas, junto com meus pais e o Léo são meu "porto seguro". Elas são minhas irmãs que me entendem sem eu precisar falar nada, às vezes não precisa nem de um olhar para a gente se entender.
Pois é, elas me disseram que eu precisava de um grupo de apoio. Encontrar minha turma aqui.
Prometo que to trabalhando nisso. Vou fazer amigos, vou me abrir.
Mas enquanto isso não está acontecendo, um grupo de mulheres maravilhosas caiu no meu colo. Assim como minhas amigas, elas não estão aqui, mas sim espalhadas pelo mundo.
Tudo começou por causa de um exercício de um livro que vamos fazer juntas por 12 semanas. Ninguém no grupo se conhece. Todo mundo entrou ali porque provavelmente precisavam desse encontro (que jamais entenderemos o motivo, mas o universo sempre funciona de um jeito maravilhoso e misterioso).
Ouvir as experiências, ouvir o que cada uma tinha a dizer e perceber que tudo o que tenho sentido não é anormal, me fez respirar um pouco mais aliviada.
A adaptação não é fácil (e acredito que mesmo passando a fase de adaptação nunca vai ser “fácil”).
Não é fácil morar longe de quem você ama. Sua família vai continuar a vida sem você (e você vai continuar a vida sem sua família). Seus amigos vão continuar a vida e fazendo novos amigos (alguns amigos se afastarão e tá tudo bem). Os aniversários continuarão existindo e você vai estar longe. Você vai perder um casamento ou outro. Você vai perder uma comemoração ou outra (ainda bem que hoje existe chamada de vídeo para participar por pelo menos 5 minutinhos). Você vai estar longe num momento difícil. Você vai chorar de saudades (vai chorar muito de saudades, dos cachorros então NEM PRECISO COMENTAR NADA SOBRE ISSO).
Isso tudo vai acontecer. E não vai passar. A saudade não vai passar.
A vida é ótima aqui. Eu estou feliz. Mas vivo numa montanha russa de emoções 24h por dia, 7 dias por semana.
Ontem acordei desanimada. Me animei. Corri 9k (pela primeira vez. Numa esteira porque o tempo da Holanda não ajuda. Quase cortei os pulsos de tanto tédio, mas consegui). Terminei a corrida e contei para as minhas amigas (ah lá, compartilhando tudo mesmo de longe). Voltei pra casa animadona. De repente bateu um desânimo. Do. Nada.
Hoje acordei animada, fui escovar os dentes e voltei para o quarto CHORANDO de saudades da minha mãe. Do. Nada. (de novo). O Léo me abraçou, riu, imitou minha mãe para me fazer rir e ligou pra ela. Ficamos conversando no telefone e chorando juntas.
É uma montanha russa de emoções todos os dias. 24/7, sabe?
Uma das mulheres daquele grupo que falei ali em cima me disse que vive há 2 anos fora do Brasil e os dias dela continuam sendo uma loucura, mas hoje ela consegue aproveitar as nuances sem se descabelar. Quando a gente sai da “bolha” você aprende a lidar com os sentimentos de uma forma mais consciente e voltada para o que é importante para cada um. A dica dela foi: aproveitar todos os dias como um novo dia.
Sinto que aqui todos (TODOS) meus sentimentos se potencializaram. Ou talvez agora eu só esteja vivendo um dia por vez e me ouvindo mais, porque de fato saí da minha “bolha”?
Não tenho resposta para nada. Não cheguei a nenhuma conclusão. Não sei nem como terminar esse texto.
A verdade é que estou vivendo o processo (que não é facil). Espero um dia encontrar a paz no caos dos sentimentos, continuar vivendo os momentos bons (que são muitos, não entenda errado) e me acolher (e ser acolhida pelo meu "porto seguro") nos momentos ruins.
Paz no caos. É isso. Não cheguei lá (ainda).
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